Mapa colaborativo denuncia violência contra moradores da Favela do Moinho
O Arquitetura da Gentrificação (AG) lança nesta segunda-feira, 3 de fevereiro, um mapa online colaborativo cujo objetivo é reunir, arquivar e disseminar denúncias de violações dos direitos humanos cometidas por gestores e agentes públicos contra os moradores da Favela do Moinho, localizada no centro da capital paulista.
A ideia do mapa surgiu como demanda percebida no âmbito da própria comunidade ao longo dos três meses que a reportagem do AG visitou a favela e conversou com lideranças para a produção de um dossiê sobre o Moinho. Há tempos os moradores e moradoras da favela já registram em fotos, vídeos, áudios e textos a violência que sofrem diariamente, desde a histórica falta de saneamento básico até os “enquadros” ilegais e truculentos realizados tanto pela Polícia Militar quanto pela Guarda Civil Metropolitana. O mapa, portanto, nada mais é do que um possível “centralizador e disseminador” dessas informações produzidas pela comunidade.
Além da demanda dos moradores, também justifica a criação do mapa a constatação de que a violência contra populações vulneráveis – especialmente a violência institucional – se alimenta e se perpetua com a falta de memória histórica e análise crítica dos fatos recentes, que esvazia os porquês da resistência e da luta coletiva. Ao fomentar o registro das violações e sua preservação em um arquivo único, público e de fácil acesso, amplia-se a força da população e seu controle sobre os gestores; ao mesmo tempo, neutraliza-se a tentativa dos violadores de apagar, por meio de agendas difusas, factoides plantados e mesmo incêndios suspeitos de arquivos e pessoas, os crimes cometidos.
Autonomia
Para criar uma nova denúncia, basta que o morador acesse o painel de controle do mapa, com login e senha, e descreva com suas próprias palavras o ocorrido. Também no mapa é possível incluir fotos e links para vídeos hospedados em outras páginas, como o YouTube. A não inclusão de vídeos dentro do próprio mapa foi uma escolha técnica para evitar a sobrecarga do site e a navegação lenta.
As denúncias podem ser cadastradas em três categorias gerais, cada qual com um ícone que a identifica: “violação do direito à moradia”, “falta de saneamento básico” e “fogo no Moinho” – esta última categoria criada em função do alto índice de incêndios na favela, muitos dos quais classificados como criminosos por quem vive na comunidade. Uma quarta categoria, “história do Moinho”, foi criada para que os moradores registrem fatos históricos da favela – não necessariamente denúncias – que ajudam a manter viva a memória comunitária e o próprio trajeto de lutas e conquistas dos homens, mulheres e crianças que vivem ali.
Cada nova denúncia ou história vem acompanhada de um ícone que pode ser posicionado no local exato ou aproximado onde ocorreu. O fato de o mapa ser uma imagem aérea da Favela do Moinho facilita a identificação detalhada de casas, descampados, vielas e ruas próximas à comunidade.
Evolução a partir da versão beta
O mapa não está em sua versão final. Outras categorias, funcionalidades e aperfeiçoamentos podem ser agregados ao longo do tempo. Essa evolução a partir da versão beta ficará a cargo da Associação da Comunidade do Moinho, que é, a partir de agora, a única responsável pela ferramenta, desde sua manutenção técnica, atualização de posts e conteúdo publicado até o pagamento anual pelo uso do domínio moinhovivo.org.br ao RegistroBR, entidade que centraliza os registros de domínios de internet no país. O papel do AG foi apenas de formulação e criação técnica do mapa e a produção dos cinco primeiros posts a título de testes de linguagem, recursos e funcionalidade do mapa.
Dados técnicos
A ferramenta foi desenvolvida por Eden Cardim, diretor técnico do site Urby. Como explica o desenvolvedor, o mapa da Favela do Moinho “foi feito com tempo livre e não há nenhuma associação formal com a empresa [em que trabalha]”. A plataforma utilizada nessa ferramenta é a WordPress com o plugin MapsMaker. A hospedagem é na Amazon Web Services.