capital imobiliário – Arquitetura da Gentrificação https://gentrificacao.reporterbrasil.org.br Só mais um site WordPress Fri, 22 Aug 2014 16:33:29 +0000 pt-BR hourly 1 Reurbanizar o mundo e lucrar: as marcas do capital imobiliário no corpo da cidade https://gentrificacao.reporterbrasil.org.br/reurbanizar-o-mundo-e-lucrar-as-marcas-do-capital-imobiliario-no-corpo-da-cidade/ Tue, 17 Dec 2013 19:32:34 +0000 https://reporterbrasil.org.br/gentrificacao/?p=553 Por Fabrício Muriana e Sabrina Duran

O geógrafo britânico David Harvey veio ao Brasil em novembro para o lançamento da versão em português do seu livro “Os limites do capital”, publicado pela primeira vez no início dos anos 1980. Professor na Universidade da Cidade de Nova York e autor de obras referenciais para a compreensão da evolução, desdobramentos e avanço do capitalismo no mundo, o geógrafo esteve em São Paulo no dia 26, depois de visitar o Rio de Janeiro e Florianópolis, para realizar a palestra “Os limites do capital e o direito à cidade”, no Centro Cultural São Paulo (CCSP).

Analisando as dinâmicas do capital e a construção das cidades a partir de uma perspectiva marxista, David Harvey esmiuçou fatos históricos e contemporâneos que mostram como a “reurbanização do mundo” transformou-se num dos principais meios de reprodução constante do lucro, essência do capitalismo. Como recrudescimento dessa reurbanização, nos dias de hoje o Estado vem transformando em “políticas públicas” expedientes que ferem direitos constitucionais, como o direito à moradia digna, quando promove despejos em massa em nome de projetos urbanísticos. Aliás, diz Harvey, os megaprojetos, como a Copa e as Olimpíadas, são uma ótima desculpa para que o Estado force a saída das pessoas de terras valorizadas ou com potencial de valorização, deixando o caminho livre para a ação do capital imobiliário. Como saída para a intensificação do domínio do capital sobre as cidades, não há solução que não seja radical: é preciso ser anticapitalista, diz o geógrafo.

“A luta anticapitalista, no sentido marxista formal, é fundamentalmente e muito bem interpretada como sendo a abolição da relação de classe entre capital e trabalho na produção, que permite a produção e a apropriação da mais-valia pelo capital. O objetivo final da luta anticapitalista é a abolição dessa relação de classe e tudo o que vem com ela, não importa onde ela ocorra. Na superfície, esse objetivo revolucionário parece não ter nada a ver com a urbanização em si. Mesmo quando essa luta tem de ser vista, como invariavelmente acontece, através do prisma da raça, etnia, sexualidade e gênero, e mesmo quando ela se desenrola através de conflitos urbanos interétnicos, raciais e de gênero dentro dos espaços da cidade, a concepção fundamental é que uma luta anticapitalista deve, no fim das contas, atingir profundamente as próprias entranhas do que é um sistema capitalista e arrancar o tumor canceroso das relações de classe na produção”. (trecho do livro “Rebel Cities” (Cidades Rebeldes) publicado por David Harvey em 2012)

Sobre esse e outros temas, o Arquitetura da Gentrificação conversou com o geógrafo logo após sua palestra em São Paulo. Confira o vídeo.

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Capital imobiliário e poder público: ‘a resistência é política e se dá nas ruas’ https://gentrificacao.reporterbrasil.org.br/capital-imobiliario-e-poder-publico-a-resistencia-e-politica-e-se-da-nas-ruas/ Wed, 06 Nov 2013 16:32:13 +0000 https://reporterbrasil.org.br/gentrificacao/?p=446

Por Sabrina Duran

Na segunda parte da entrevista ao Arquitetura da Gentrificação (a primeira parte pode ser vista aqui), a urbanista Ermínia Maricato fala sobre as consequências do “casamento” entre capital imobiliário, indústria automotiva e poder público. Casamento que, segundo ela, tem levado as cidades a um abismo que exaure recursos públicos em “obras imobiliárias”, castiga o desenho urbano e priva a população do direito à cidade.

A entrevista é publicada alguns dias depois da denúncia de corrupção envolvendo servidores públicos da gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) e construtoras, num esquema de pagamento de propina que, estima-se, gerou um rombo de R$ 500 milhões nos cofres do município. Mais uma prova de que o casamento do qual fala a urbanista é daninho não só naquilo que se vê dele, mas principalmente no que não está público.

Citando as jornadas de manifestações populares de junho contra o aumento da tarifa dos transportes, Ermínia Maricato propõe a desconstrução como solução para problemas estruturais: a desconstrução do modelo de concessão e da tarifa do transporte público e, no caso da habitação, a desconstrução da hegemonia da propriedade privada que impede, por exemplo, que prédios abandonados, especialmente os que estão no centro histórico da capital paulista, se transformem em habitação social. Os proprietários desses edifícios, muitas vezes grandes devedores de IPTU, quase nunca são acionados pela Justiça. “Tem de aplicar a lei”, diz Maricato, referindo-se aos instrumentos legais específicos que garantem a função social da propriedade. Segundo ela, no fim das contas a luta não é jurídica, mas política, e a resistência, garante, não se dá nos espaços institucionais, e sim nas ruas.

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