Fabricio Muriana – Blog da Arquitetura da Gentrificação https://gentrificacao.reporterbrasil.org.br/blog Wed, 19 Apr 2017 16:15:56 +0000 pt-BR hourly 1 Para construir moradia em “vazios urbanos”, Alckmin desapropria imóveis habitados https://gentrificacao.reporterbrasil.org.br/blog/desapropriacao/ https://gentrificacao.reporterbrasil.org.br/blog/desapropriacao/#comments Sun, 18 Aug 2013 20:35:48 +0000 https://reporterbrasil.org.br/gentrificacao/blog/?p=100  

Mesa composta por Suely Mandelbaum, Marcelo Sampaio, Carlos Giannazi, Nelson da Cruz e Gegê. Foto: Fabricio Muriana

Mesa: Suely Mandelbaum, Marcelo Sampaio, Carlos Giannazi, Nelson da Cruz e Gegê. Foto: Fabricio Muriana.

Por Fabrício Muriana e Sabrina Duran

Aconteceu na última sexta-feira, 16/8, na Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP), audiência pública convocada pelo deputado Carlos Giannazi (Psol) para discutir o decreto 59.273, de 07/06/2013, no qual o governador Geraldo Alckmin desapropria 890 imóveis para a parceria público-privada (PPP) da Agência Casa Paulista, ligada à Secretaria de Estado de Habitação de São Paulo (SEHAB). A PPP prevê a criação de 20 mil unidades habitacionais na região central de São Paulo.

Ao longo da audiência, com o microfone aberto à sociedade civil, repetiram-se histórias de absoluto desconhecimento de proprietários de imóveis sobre as desapropriações às quais serão submetidos. A principal reclamação apresentada por eles é que a SEHAB não os consultou sobre esta medida.

O Instituto Urbem, empresa que ganhou a concorrência para desenvolver o projeto urbanístico para os seis lotes que integram a PPP da Casa Paulista, afirma que destacou 73 profissionais para mapear as condições da população e a situação fundiária. Entretanto, nenhum dono de imóvel que será desapropriado e que estava presente na audiência ouviu falar do estudo e nem da PPP. O projeto urbanístico do Urbem servirá de base para a licitação das empresas que demolirão e construirão as novas moradias.

Em documento publicado em 2010, a urbanista e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik, apresenta as condições essenciais para que uma desapropriação, quando absolutamente necessária, seja feita de forma justa. As três primeiras condições referem-se à informação:

a) dar a oportunidade de autênticas consultas aos afetados;

b) notificar de maneira adequada e razoável todas as pessoas afetadas, antes da data
prevista para o despejo;

c) proporcionar informação, no momento oportuno e a todos os afetados, sobre os despejos propostos, e quando se o proceda, sobre a finalidade para a qual se quer utilizar determinada terra ou moradia.

Precedente negativo

Em 25 de julho desse ano, o juiz de direito Randolfo Ferraz de Campos negou liminar do promotor de Justiça de Habitação e Urbanismo de São Paulo, dr. Maurício Ribeiro Lopes, que solicitava a paralisação da PPP da Casa Paulista sob o argumento da falta de participação da sociedade civil no processo. Para sustentar a negativa, Ferraz de Campos disse, como argumento principal, que “conceder aqui a liminar na forma como se a requereu na ação implicará atrasar significativamente a implementação da PPP Habitacional (…)”. O juiz também afirmou que era “genérico” o pedido do promotor de “participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano relacionado à Parceria Público Privada para concessão administrativa na área central da cidade de São Paulo para fins de plano habitacional”.

Acesso à informação negado pelo “risco de especulação”

Dias antes da audiência, o Arquitetura da Gentrificação (AG) entrou em contato com Instituto Urbem e com a Secretaria Estadual de Habitação para ter acesso ao projeto na íntegra. Nos dois contatos, porém, o acesso foi negado.

No caso do Instituto Urbem, a justificativa para a não divulgação do estudo é que foi um “pedido deles [Agência Casa Paulista] pra não gerar especulação imobiliária”. A declaração foi dada por telefone pelo arquiteto Milton Braga, membro da equipe do Urbem que desenvolveu o estudo aprovado pelo Governo. Além de professor da Faculdade de Urbanismo da USP, Braga é um dos donos do escritório de arquitetura MMBB, que também tem como sócio o atual secretário municipal de desenvolvimento urbano, Fernando de Mello Franco. Em 2013, Franco licenciou-se da empresa para ocupar o cargo público.

A resposta da SEHAB estadual sobre a consulta ao projeto foi no mesmo sentido do instituto. “A SEHAB esclarece que as informações passíveis de consulta pública, até o momento, já foram disponibilizadas via internet, no site da agência de fomento habitacional Casa Paulista www.casapaulista.org.br (SIC). O detalhamento dos estudos não pode ser apresentado na fase atual, de pré-lançamento do edital da licitação, a fim de se evitar atrasos e prejuízos ao processo, causados por eventuais especulações imobiliárias em torno das áreas a serem exploradas ou desapropriadas pelos empreendedores privados”.

Se o argumento para a não divulgação pública e na íntegra do estudo é o temor de especulação imobiliária, o decreto, em tese, também não “poderia” ser divulgado, uma vez que explicita a localização de 890 imóveis onde acontecerão as intervenções do projeto.

As informações sobre a PPP disponíveis no site da Agência Casa Paulista (o site correto é www.casapaulista.sp.gov.br) trazem apenas um conteúdo resumido, inserido no edital de chamamento público para as empresas interessadas, à época, na concorrência para a elaboração dos estudos e projeto urbanístico, vencida pelo Instituto Urbem. O edital de chamamento contém 20 páginas em PDF. De acordo com Philip Yang, diretor do Urbem, o estudo e projeto realizados por sua equipe gerou 3.600 páginas divididas em 12 tomos de 300 páginas cada um.

Semelhança com Projeto Nova Luz

Uma informação que ainda não está totalmente esclarecida sobre a PPP da Agência Casa Paulista e que aparece na resposta da SEHAB enviada ao AG por email é a responsabilidade pela desapropriação das áreas designadas ao projeto: “(…)  a fim de se evitar atrasos e prejuízos ao processo, causados por eventuais especulações imobiliárias em torno das áreas a serem exploradas ou desapropriadas pelos empreendedores privados“. Se, de fato, o poder de desapropriação – e posterior exploração das áreas desapropriadas com fins de lucro – for concedido aos empreendedores privados, a PPP do centro se assemelhará ao Projeto Nova Luz no que se refere ao uso do instrumento de concessão urbanística. Entre as críticas que recaem sobre o uso da concessão nesses moldes, uma das principais é esta: “Esse projeto de lei (do projeto Nova Luz) está criando, na prática, a figura de concessionária de especulação imobiliária, atividade vedada ao próprio Poder Público. Como é possível transferir a particular o poder de desapropriar para fins de revenda, o que é vedado ao próprio Poder Público?” (leia a crítica completa aqui).

O projeto Nova Luz, do ex-prefeito Gilberto Kassab, foi barrado no ano passado pela ação de moradores e pequenos comerciantes da região sob o argumento de que não houve consulta pública, como exige a lei. Nesse ano o prefeito Fernando Haddad suspendeu oficialmente o projeto.

Espaços vazios e informação pública

“O princípio desse programa (PPP) é ocupar vazios urbanos”, afirmou Milton Braga ao AG, e acrescentou que “nosso estudo foi orientado por eleger vazios urbanos, terrenos vazios, subutilizados e assim por diante”. Considerando que a audiência pública do dia 16/8 foi acompanhada por diversos moradores que serão desapropriados, e tendo em conta que se trata de um projeto que vai afetar a vida de milhares de pessoas, desapropriadas ou não, é primordial, neste momento, entender o que o Instituto Urbem define como “vazios urbanos”, além de todos os detalhes dos estudos e do projeto urbanístico. Só assim será possível saber quais são os planos da Secretaria de Estado de Habitação para esta região da cidade.

Com base nesses questionamentos e após receber negativas do Instituto Urbem e SEHAB estadual, o AG fez um pedido formal no dia 17/8 por meio do site Serviço de Informação ao Cidadão do Governo do Estado de São Paulo, solicitando consultar, pessoalmente, a íntegra do estudo desenvolvido pelo Instituto Urbem para a execução da PPP de habitação da Agência Casa Paulista. O pedido foi feito com base na Lei de Acesso à Informação, que garante a todo cidadão, independentemente das suas razões, acesso a informações públicas. Para fazer uma solicitação, basta acessar o site e dizer, com objetividade, quais as informações desejadas e em qual órgão público elas se encontram.

Comprovante eletrônico da solicitação. Informação deve ser entregue até o dia 6 de setembro.

Comprovante eletrônico da solicitação. Informação deve ser entregue até o dia 6 de setembro.

Resistência

Após o anúncio do decreto com a lista dos 890 imóveis a serem desapropriados no centro da cidade, moradores da região, muitos deles na mira das desapropriações, já começam a se organizar para resistir ao processo e convocar outras pessoas para que façam o mesmo. Duas iniciativas acontecem na internet, pelo site São Paulo Desapropria, e pela comunidade no Facebook Desalojados do Alckmin. Acompanhe por lá as notícias e atualizações sobre o tema.

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Derrubada do Muro da Vergonha https://gentrificacao.reporterbrasil.org.br/blog/90/ Tue, 06 Aug 2013 16:43:28 +0000 https://reporterbrasil.org.br/gentrificacao/blog/?p=90 No dia 05 de julho, a favela do Moinho organizou seus moradores e foi às ruas pedindo regularização fundiária e urbanização da comunidade. Embora esteja na região central de São Paulo, a favela não conta com saneamento básico e, segundo moradores, já sofreu mais de 10 incêndios nos últimos 10 anos. O último grande incêndio causou a remoção de 480 famílias e a implosão pela prefeitura do prédio mais afetado. Para impedir o acesso à área próxima da demolição, a gestão Kassab construiu um muro de concreto armado no limite da favela.

Momento em que a Manifestação atingia a Avenida Rio Branco, em direção da Prefeitura.

Manifestação na Avenida Rio Branco, em direção da Prefeitura, 05/07. Foto: Fabricio Muriana.

O prefeito Fernando Haddad, quando em campanha para a prefeitura, usou imagens da favela e prometeu a urbanização. No entanto, recentemente a Secretaria da Habitação respondeu um email, que foi publicado em matéria da Agência Pública, em termos de “erradicar a favela“, oferecendo unidades habitacionais que ainda não estão prontas na região da Ponte dos Remédios, a 13 km do centro, e da Rua do Bosque, na região da Água Branca.

Os moradores da Favela do Moinho fizeram reunião com o Prefeito Fernando Haddad, que prometeu a retirada do muro construído na gestão Kassab. A medida de contenção poderia ganhar caráter trágico, sobretudo numa favela com tantos históricos de incêndio, pois o muro obstruía uma via de evacuação em caso de necessidade de fuga. A retirada do muro se fazia necessária por laudo do corpo de bombeiros.

Como a promessa do Prefeito não foi cumprida, os moradores organizaram neste domingo, 04 de agosto, um evento com música e com apoio de vários outros movimentos sociais, para a Derrubada do Muro da Vergonha.

Usando marretas e britadeiras, os moradores levaram toda uma tarde para derrubar apenas um pedaço do muro, que era composto por uma trança e metal e concreto. Curiosamente, o muro contava com material mais resistente do que qualquer casa da Favela do Moinho.

Somente no histórico recente, a prefeitura já implodiu um prédio e construiu um muro extremamente resistente para lidar com a questão da favela. Seguimos esperando o momento em que a prefeitura começará a fazer saneamento básico e processos de urbanização, demandas concretas da comunidade local.

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Início da derrubada do Muro da Vergonha. 04/08. Foto: Fabrício Muriana

Moradores em cima do muro, trabalhando na demolição.

Moradores em cima do muro, trabalhando na demolição. Foto: Fabrício Muriana

Para saber mais sobre a organização dos moradores da favela do Moinho, todas as fotos e vídeos estão disponíveis na página deles no Facebook: https://www.facebook.com/moinhoresiste

Pixação executada no mesmo dia da derrubada do Muro da Vergonha.

Pixação executada no mesmo dia da derrubada do Muro da Vergonha. Foto: Fabricio Muriana

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Cobertura da audiência do projeto de lei que revoga o projeto Nova Luz https://gentrificacao.reporterbrasil.org.br/blog/cobertura-da-audiencia-do-projeto-de-lei-que-revoga-o-nova-luz/ Wed, 26 Jun 2013 20:34:59 +0000 https://reporterbrasil.org.br/gentrificacao/blog/?p=34 Numa esvaziada audiência da Câmara dos Vereadores, discutiu-se no dia 26 de junho o projeto de lei 282/2013 do Vereador Nabil Bonduki, do PT, de revogação do projeto Nova Luz, que previa a Concessão Urbanística de 45 quadras na região da Santa Ifigênia.

Foto: Fabrício Muriana CC-BY-NC-SA

José Police Neto, Andrea Matarazzo e Nabil Bonduki em audiência da Câmara. Foto: Fabrício Muriana CC-BY-NC-SA

Ao princípio, o próprio vereador sugeriu que a audiência fosse adiada, mas respeitou a data por conta das duas pessoas que estavam inscritas para comentar o projeto. O vereador Andrea Matarazzo, do PSDB, falou primeiro, pedindo que o projeto Nova Luz não fosse revogado. “Ao meu ver, poderia ter sido alterado, reduzido, não ser feito em 45 quarteirões, mas nos 15 iniciais, que eram quarteirões com pouquíssimas habitações. Apenas galpões abandonados” comentou o vereador.

Outra fala veemente contra a revogação do projeto Nova Luz foi a do Vereador José Police Neto, do PSD. Segundo ele, “o que mais se ouvia na época [da formulação do projeto Nova Luz] é que quem terra lá tinha, não queria ZEIS… talvez isso [revogação do projeto Nova Luz] acelerasse um processo especulativo sem projeto público”. O vereador deixou entrever em seu discurso que há interesses maiores em que o projeto fosse revogado, mas não foi claro na descrição de que interesses seriam esses.

Nabil Bonduki, autor do projeto de revogação, salientou que a lei que regulamenta Concessões Urbanísticas em geral não está sendo revogada. A revogação é específica para o Projeto Nova Luz. Segundo o vereador “Essa lei… foi amplamente contestada por todos os segmentos da região. Pelos comerciantes, pelos moradores, por vários urbanistas que cuidam do assunto, inclusive com uma ação que foi aberta pela defensoria pública e que trava juridicamente o desenvolvimento desse projeto”. Por fim, Nabil Bonduki explicou sua posição com relação às concessões urbanísticas em geral: “uma Concessão Urbanistica de uma região específica, ela só pode ser aprovada como lei depois que nós tivermos um projeto detalhado, definindo exatamente o que vai ser feito. Porque senão o legislativo… pode transferir o projeto para particulares sem definir claramente o que vai ser feito” comentou o vereador.

José Police Neto mostrou-se claramente irritado com a quantidade de discussão relacionada com o projeto Nova Luz e com a operação urbana Água Branca, ambos projetos cujas discussões públicas vêm sendo encampadas pelo Vereador Nabil Bonduki.

Cabe destacar também que, mesmo com apenas duas pessoas da sociedade civil inscritas para falar na câmara, o vereador Andrea Matarazzo, que presidia a mesa, pediu pressa nas manifestações dos que solicitaram, alegando que havia outra audiência marcada para a mesma sala.

Se você quiser ouvir a audiência na íntegra, clique no link e aperte o play:

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